Exposición
Brasil
Exposição online
Inauguración: 05/10/2021

Ferida Aberta

Para esta exposição, o Grupo Broca se debruçou sobre a história do Brasil, trazendo uma leitura a respeito da complexa formação de um país que tem um passado colonial, um presente pandêmico e um futuro próximo instável.

Em 2020, a pandemia do Corona Vírus transformou a vida e a percepção dos seres humanos. A fragilidade existencial revelou a necessidade do confinamento e congelamento das atividades corriqueiras, nos levando a um momento único de reflexão.

No Brasil, estamos diante de um desmonte cultural, cientifico e ecológico. Questões como desequilíbrio econômico e social, racismo, feminismo, liberdade de expressão e gênero, assim como preservação do planeta e de minorias étnicas, clamam por mudanças. A pandemia evidenciou este panorama.

Tentando desvendar as particularidades e subjetividades de nossa colonização e as marcas estruturais que carregamos até os dias de hoje, discutimos nossas visões, vivências e posições dentro deste momento delicado, apontando para feridas nunca cicatrizadas desse corpo chamado Brasil.

“Ferida Aberta” é o titulo que encarna esta complexa urgência que a vida nos traz.

O Grupo Broca é formado por dez artistas com trajetórias diversas e que têm em comum a linguagem da joalheria contemporânea como principal forma de expressão. Nossa dinâmica de trabalho compreende encontros periódicos, envolvendo estudo, análise crítica e pesquisa prática. Através de exercícios de reflexão e caráter investigativo, cada uma das integrantes do grupo aprofunda seu próprio projeto pessoal, que se constrói entre vocabulários individuais e agenciamento coletivo, promovendo um fazer que é fruto de diálogo e questionamento. Dessa polifonia fazemos nosso coro.

Actividades

Ferida Aberta / Chama Refletida / Marina Sheetikoff

No coração do Brasils encontra o pulmao do planeta e os guardiões da terra. Vital para o equilíbrio climático, a floresta amazônica com seus rios voadores está na iminência de uma ruína sem volta,  causada pelo desmatamento desenfreado e seus povos indigenas graves populações indígenas inundadas com a proliferação de lixo ilegal em suas reservas.
Minha obra impregnada de fumaça e líquido retoma os primeiros contatos entre índios e colonizadores, traçando objetos usados ​​como mercadoria do caminhão e sua relação poética com os elementos naturais: raio / fogo / madeira / fósforo , reflexo / água / espelho / flocos e conjunto de insetos mortos; chamando a atenção para a fragilidade real de nossos tempos.



Ferida Aberta / Faz que me vê / Nicole Uurbanus

A injustiça social me fere profundamente.  Sendo gringa, mas ter feito do Brasil minha casa, tenho um olhar de fora que entende o “dentro”, mas sem os filtros que os brasileiros tem para poder  aceitar estas realidades paralelas.  Entendo que o pais é indecifrável, construído em bases convenientes para os europeus, que chegaram e ocuparam, da mesma maneira que fizeram e tentaram nos quatro cantos do mundo.  Em alguns, como na América Latina, conseguiram ficar e se estabelecer, bem ou mal, recriando uma sociedade pautada nos valores “de lá”, considerando que tudo que estava a sua frente tinha que se adequar.

Ferida Aberta / O corpo fala / Maria Alves de Lima

O fato de que o corpo está presente em processos criativos/artísticos, como em processos terapêuticos, me faz pensar a relação entre arte e cura, tendo no corpo seu nervo central. Com esta ideia, me interessei pela joalheria das crioulas afro brasileiras ( pencas de balangandã e outros adornos) e a associei a seus corpos de resistência ao regime Colonial. Criar e portar tais objetos, transfigurava seus corpos e sua presença no mundo, para além de seu lugar racializado.
A peça que aqui apresento visita o passado Colonial e este corpo em atos e gestos de resistência/criação, como uma alegoria que o traz para o presente. Com está alegoria me somo às vozes destes corpos que hoje são emitidas na cena pública em alto e bom som. Estas vozes nos impõem, a todos nós estruturados na herança da colonização, a exigência de enxergar o abismo de desigualdade social, sustentado na noção de raça que a naturaliza e que se aplica não só à cor de pele, mas a etnicidade, ao gênero e à classe.
É uma obra de vestir a cabeça: uma  viseira de tule e renda de algodão costurada com fios de cobre, que se sobrepõe a uma malha de tricô de fios de cobre que envolve o rosto e a circunferência da cabeça, na qual estão pendurados pequenos elementos usados nos balangandãs, com figas e chavinhas. A presença da malha de cobre que, como uma grade, invisibilizava a existência da escrava sob o domínio da sinhá, torna-se aqui visível e marca sua presença pelo balanço das peças de sua imaginação criadora que transformam as grades em um espaço de transfiguração.

Ferida Aberta / Eternidade - O Tempo da Memória / Renata Porto

Eternidade - O Tempo da Memória
Uma das questões da humanidade está relacionada com a eternidade ou com a permanência
entre os vivos. Por quantas gerações uma família consegue identificar e guardar a identidade de
seus antepassados? Por quanto tempo podemos permanecer vivos após a morte?

Deusa Mnemosyne, mãe das musas, que protege as artes e a história, que dá aos poetas e
adivinhos o poder de voltar ao passado e lembra-los para a coletividade, Deusa que tem o poder
da imortalidade.
A eternidade a mercê da memória, este trabalho é o registro que fica quando a memória acaba.
São três momentos, três diferentes formas de abordar o vazio, um chamado Álbum de Família,
que acompanha um colar de nascimento feito com cabelo para marcar o momento presente e
guardar para a eternidade, enquanto dure. Em uma segunda abordagem, chamada Unidos Para
Sempre, em que as imagens se apagam e as gerações vão recriando e construindo a história. Na
terceira e ultima abordagem está a Mnemosyne, como um grande jogo de imagens que se
desconfiguram e se transformam em nada.

Ferida Aberta / Herança de Fé / Miriam Andraus Pappalardo

Apoiado sobre um pequeno banco, em seu quarto, encontrei aquele rosário todo amontoado, o rosário de minha mãe. Não sei dizer por quantas décadas ele ficou desaparecido de meus olhos, mas imediatamente o reconheci. Sim, aquele rosário das medalhinhas de Nossa Senhora! É de prata! Lindo, seco, plano, gráfico, repetitivo, reflexivo, amontoado, como uma massa de matéria quase derretida. E, ali no meio, quase camuflado, o crucifixo, discreto e elegante, Nosso Senhor Jesus Cristo. Decidi tirar um molde dele assim mesmo, esparramado e confuso, fazer uma peça de proteção, primeiro em cera, depois em metal. Durante a noite, empolgada com minha decisão, me perguntei sobre minha religiosidade, pergunta difícil para aquela hora, para minha idade, mais difícil ainda para escrever sobre isso justamente agora. No outro dia, perguntei sobre o rosário para minha mãe, ela me disse que estava todo emaranhado, sugeriu que eu poderia ajudar a desenroscar. Me disse também que as Ave-marias eram Nossa Senhora de Fátima e os Padre-nossos eram Nossa Senhora Aparecida, mas que era difícil diferencia-las e isto dificultava a contagem de suas orações. Explicou também, que pelo formato plano das pequenas partes, escapava facilmente de suas mãos, já tão lisas e quase sem digitais. Pesquisando então no dicionário, atualizei o que talvez já soube um dia, para cada dez Fátimas, uma Aparecida, sequência essa, repetida quinze vezes, seriam os mistérios... Ainda costumo rezar, mas em geral faço isso quando estou no trânsito, dirigindo, seria impossível contar o terço, ou também, quando na cama, não conseguindo dormir, ao esquecer de todo o resto, ao rezar adormeço tranquila. Gosto de desatar nós, da mesma forma que gosto de entrelaçar fios, inventando caminhos, também faço isso com muita paciência, é quase um desafio, como um jogo, um labirinto. Nem sempre dá certo, mas também apazigua.

Miriam Andraus Pappalardo

Ferida Aberta / Carrego meu Luto nos Bastidores / Kika Rufino

Traumas sobre tramas

 

As flexões semânticas marcam meu processo.

“Holy-hole-whole, Triz, Tenuis, ausepresente, corte-quase”. 

É a partir delas que articulo e ativo determinados assuntos que perpassam a resistência, resiliência, suspensão, presença, deslocamento, ausência e agora o luto.

Flexões semânticas e gestos empregados para dar corpo ao que é imaterial.

O buraco, o sulco, o corte, presentes pela maneira com que delineia relevos, luz, sombra, cheio e vazios, evidenciam a sutileza do lugar liminar. O espaço entre. Pele e veste, corpo e ar. Um lugar de descanso e tensão. Lugar da busca de um constante equilíbrio. Dinâmico.

Esses elementos que sempre deram vastidão e profundidade a seu trabalho, feito na escala do corpo, hoje são marcados pela cisão, pela ruptura, pelo dilaceramento.

A pandemia, o distanciamento. A perda da mãe, a cisão explosiva.

Nesses estilhaços as pontas são agudas, atravessar demanda cuidado. (Vide vídeo)

A ferida está aberta, a cicatrização é lenta, por isso o que cabe é delineá-la,

salvar espaço para reconhecer o que transborda. (Vide instalação)

Para além das bordas, as vestes. Memórias de uma intimidade tecida entre mãe e filha. Testemunho de presença, que revelam irreparável ausência.

O luto, intensamente particular, é também coletivo. Se é preciso uma aldeia para cuidar de um bebe, é ela novamente que vem abrandar o luto.

Na veste o sinal, daquilo que não tem palavra. No peito, em silêncio, o aro interno toca a pele. O encontro com o contorno externo tenciona a trama. Estica, estrutura, exaure. Nos bastidores, a inversão rebaixa o núcleo. O tecido toca a pele.

Nas roupas de minha mãe, o encontro entre dentro e fora é promovido pelos bastidores.

Bastidores, é também aquilo que não se vê, aquilo que está por trás das câmeras, das máscaras, das vestes, mas que deixa vestígio.

Vestígio este que marca uma geração inteira de pessoas que perderam seus familiares. Seja para a pandemia seja durante a pandemia isolar-se é preciso, sujeitar-se é precioso.

Viver é cuidar dos seus e arriscar-se.

Ferida Aberta / A Pulga atrás da Orelha / Silvia Beildeck

O dia a dia tem nos trazido uma quantidade de (des)Informações... mentiras, meias verdades, pós verdades, invenções, alucinações,  egotrips,  delírios de poder, etc. Qualquer um, especialmente através  das redes sociais, alcança uma parcela enorme de simpatizantes.
Já que, nesse assunto,
os algoritmos ajudam... levam suas ideias para os que pensam e reagem de forma semelhante,  ou seja, vc recebe aquilo que quer ouvir!
Tudo isso cria um imenso ruído na comunicação dos fatos.
Esse tipo de marketing é poderoso  em criar confusão e dúvidas,  questionando fatos científicos e vendendo "não verdades absolutas".
O objetivo de criar e divulgar  informações contraditórias é colocar a pulga da dúvida atrás do maior número possível de orelhas .

Ferida Aberta / T.P.- The Strangeness in Me / Clau Senna

"A Meia Noite Levarei sua Alma"
(Zé do Caixão por Clau Senna)

O cabelo amarrado,passou em volta do pescoço....desceu pelas costas,encontrou a coluna.A coluna bateu na ponta  do triângulo,que dobrou e apareceu a cobra na bunda,nela moravam duas caveiras que olhavam para as as serpentes envolvendo as pernas.
Uma caveira fantasma corria para o culto(culo).Lá embaixo a caveira esfomeada comia os Eternos.
Mini-paus flutuavam e pintavam gotas verdes na luva-palmatória que vazia e dura ,pedia um shot de heroína.

(extraído da pequena Biografia dos objetos ocultos)

Ferida Aberta / até a última gota, o último suspiro / Thais Costa

Nosso Brasil foi esfolado, esburacado, arrancado, estuprado, mutilado, desfigurado, enterrado, desmontado, surrupiado, expropriado, destituído, extorquido , abandonado , desde que foi encontrado há 500 anos atrás. Nossos corpos,  nossos  sonhos, nosso tempo, nosso sangue vem sendo esvaziados ,  sugados, extraídos pelo imediatismo burro, mesquinho, raso, criminoso , estéril, barato, até a última gota.

A situação  de total  desamparo vivido no estado do Amazonas recentemente, onde milhares  de pessoas morreram por falta de oxigênio que não foi disponibilizada a tempo pelas autoridades, é uma ilustração atualizada do descaso e vilania estruturais. O Brasil exala seu último suspiro?

Vídeo 1: https://vimeo.com/623789420

Vídeo 2: https://vimeo.com/623774075

Ferida Aberta / A Escuta / Renata Meirelles

Durante a pandemia , me refugiei na Mata Atlântica e no interior . Nestas  idas e vindas gravei os sons do amanhecer  e anoitecer  durante minhas caminhadas.

Estas captações fazem parte integrante  da instalação  concebida a partir  da vivência e internalização destes sons , que  me levaram a construir estes corpos em suspensão .

Corpos desconectados ,esgarçados e feridos.Corpos que flutuam como se quisessem se mover sem o peso da realidade.

Quantos sinais o planeta está nos mostrando mas perece que não queremos escutar ?

Quantos desgovernos e catástrofes  precisam existir, para  que não fiquemos indiferentes  a realidade que se impõe? Todos somos afetados.

Como nos conectar se não por uma escuta sensível que cura .

Link para vídeo:

A Escuta / Renata Meirelles

Grupo Broca

O Grupo Broca é formado por dez artistas com trajetórias diversas e que têm em comum a linguagem da joalheria contemporânea como principal forma de expressão. Nossa dinâmica de trabalho compreende encontros periódicos, envolvendo estudo, análise crítica e pesquisa prática. Através de exercícios de reflexão e caráter investigativo, cada uma das integrantes do grupo aprofunda seu próprio projeto pessoal, que se constrói entre vocabulários individuais e agenciamento coletivo, promovendo um fazer que é fruto de diálogo e questionamento. Dessa polifonia fazemos nosso coro.

Participantes

Clau Senna / Grupo Broca / Kika Rufino / Maria Alves de Lima / Marina Sheetikoff / Miriam Andraus Pappalardo / Nicole Uurbanus / Renata Meirelles / Renata Porto / Silvia Beildeck / Thais Costa